Uma reportagem do jornal americano The Wall Street Journal, publicada nesta segunda-feira (4), diz que os principais executivos da mineradora Vale receberam um e-mail anônimo alertando sobre a situação das barragens da empresa, duas semanas antes do rompimento do reservatório de Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte.
A publicação indica que o então presidente-executivo Fabio Schvartsman, após receber a mensagem, convocou três colegas da empresa para descobrirem quem havia escrito o e-mail. De acordo com a matéria, Schvartsman teria se referido ao autor da mensagem como um “câncer”.
O e-mail intitulado de “A Verdade” afirmava que a companhia enfrentava “grandes desafios pela frente” e que as operações da empresa não teriam “o nível mínimo de investimento adequado”, faltando mão de obra nas operações, manutenção e engenharia. O autor da mensagem ainda teria destacado que as barragens de rejeito da Vale estaria em “seus limites”.
A mineradora confirmou, nesta terça-feira (5), a existência do e-mail e destacou que os relatos sobre as barragens aparecem “em meio a outros assuntos, de forma genérica e sem evidências”. A mensagem não teria citado especificamente a situação da estrutura de Brumadinho.
Sobre as estruturas “no limite”, a companhia informou que o termo foi compreendido como “como referência ao limite de capacidade licenciada das barragens”. Em nota, a Vale também negou a falta de investimentos apontadas.
Procurada a defesa de Fabio Schvartsman para comentar o caso, mas ainda não teve retorno. Para o The Wall Street Journal, a defesa do ex-diretor da Vale alegou que o cliente sempre acompanhava as denúncias quando “elas incluíam informações concretas”.
Segundo documentos da investigação policial a qual o jornal teve acesso, Schvartsman disse, em depoimento que acredita que o e-mail anônimo tenha sido escrito por algum funcionário que estava descontente com sua gestão.
Veja a íntegra da nota da Vale:
“A Vale esclarece que o e-mail mencionado foi devidamente analisado pela Ouvidoria da empresa. A questão das barragens aparece, em meio a outros assuntos, de forma genérica e sem evidências.
O termo “barragens no limite” foi compreendido como referência ao limite de capacidade licenciada das barragens, o que já vinha sendo endereçado pela empresa como, por exemplo, com a expansão das operações com processamento a seco.
As menções à suposta carência de investimentos e redução de custos também são genéricas e infundadas. Os recursos aplicados na manutenção das operações no Brasil apresentaram crescimento significativo nos anos de 2017 e 2018, atingindo R$ 14,5 bilhões no ano passado. Os investimentos em gestão de barragens no Brasil vêm sendo reforçados continuamente. O orçamento aprovado em 2018 prevê investimentos de R$ 256 milhões em 2019, um crescimento de cerca de 180% em relação a 2015.
Diante desse contexto, a denúncia foi à época classificada como genérica, uma vez que não mencionava, de forma objetiva, nenhum fato certo e concreto, conforme já foi declarado ao Ministério Público do Estado de Minas Gerais.”